O açaí é daqueles alimentos que vão muito além de um item culinário. A sua essência é carregada de valores culturais, tradicionais e até mesmo místicos. É possível acreditar ou não na lenda do fruto que salvou as crianças da tribo de serem sacrificadas por causa da
fome. Mas é fato que, até hoje, a abundância do açaí tem sustentado gerações, sendo uma das principais fontes de renda de ribeirinhos do Norte do Brasil.

Em pleno período de safra, que vai de agosto a fevereiro, o fruto fornece tudo o que possui e nada é descartado: polpa, folhas, raízes, palmito, tronco e cachos frutíferos. Tamanha generosidade da natureza não acaba por aí.

Entre tudo que o fruto tem a oferecer, transbordam benefícios para a saúde, vantagens econômicas, diversidade de uso, aproveitamento de materiais e significados simbólicos que, em essência, dizem muito da relação quase simbiótica que existe entre o produto, a região e a população a quem ele serve.

Benefícios para a saúde

O sabor inigualável do açaí também explica sua versatilidade culinária: do doce ao salgado, com tudo ele vai bem. E faz bem! O açaí é rico em fibras, cálcio, fósforo, vitaminas e antioxidantes que diminuem, inclusive o risco de algumas doenças, como complicações
cardiovasculares e cânceres (inclusive, estudos comprovam o benefício do açaí no combate ao câncer de mama).

Para quem busca mais energia para o dia a dia ou treinamento físico, ele também é uma super opção. As proteínas e calorias do açaí funcionam como uma fonte energética para o corpo durante a prática de atividades físicas em geral. Ao mesmo tempo, essas
propriedades são facilmente processadas pelo organismo, o que não causa nenhum prejuízo à saúde.

Mesmo após a prática de exercícios, as propriedades do açaí ainda atuam na reconstrução muscular, graças aos polifenóis, substâncias essenciais para prevenção de problemas relacionados à síndrome metabólica. O esquadrão de combate ao desgaste muscular ainda conta com a ajuda dos carotenóides luteína, zeaxantina, licopeno, a-caroteno e b-caroteno.

E essa beleza toda não fica só por dentro. Olhos, cabelos e pele são órgãos potencialmente beneficiados pelo açaí, seja por sua ingestão ou por tratamento cosmético, uma vez que, da fruta são derivados, ainda, subprodutos cosméticos que comprovam sua eficiência e versatilidade além da culinária.

O açaí e a modernidade 

Atualmente, o açaí tem se adaptado também à modernidade dos novos tempos, em que o tradicional tem ensinado a respeito dos métodos de cultivo sustentável, e a agricultura moderna tem ajudado a capacitar povos tradicionais, que ainda têm a fruta como parte do sustento. Afinal, o comércio do açaí é significativo para o mercado desde o pequeno até o grande produtor.

Na colheita, o método histórico dos coletores de açaí, que escalam com mãos e pés ao longo dos mais de 12 metros da planta, é ampliado com a modernização do agronegócio, sem perder o seu caráter artesanal.

No ecoturismo, a fama do açaí tem atraído os olhares de pessoas e negócios sobre a curiosidade culinária e cultural. Como consequência, o fruto tem aumentado a visita de turistas à região amazônica, contribuindo para a economia local, o que inclui também
pequenos comerciantes e espaços tradicionais, como as feiras.

Uma das explicações para o seu sucesso no mercado é o potencial que ele significa para o empreendedorismo. Franquias alimentares têm aproveitado a variedade de derivados do açaí como um empreendimento rentável. Seja na sua mistura com o guaraná, muito comum no Rio de Janeiro, ou na produção de sorvetes, bebidas e outros derivados que fazem sucesso no cotidiano urbano, a fruta tem sido de grande aproveitamento para negócios criativos.

E vai além da alimentação: as fibras, folhas, madeira e caroços do açaí também são aproveitados na confecção de produtos diversos, como os artesanatos. A madeira do açaizeiro é, inclusive, usada para construir casas e abrigos na região amazônica, devido sua tamanha resistência.

Um valor imaterial

É claro que todos esses benefícios explicam, do ponto de vista científico e comercial, por que o açaí é um fruto de tanto sucesso. Mas, a verdade mesmo, é que nem seria preciso saber de todas essas vantagens, porque sua principal propriedade está no relacionamento que ele tem com a cultura, as pessoas e a história da região.

Com um papel tão significativo no dia a dia na culinária local e nacional, ele é daqueles alimentos “com sabor de família”, “com cheiro do nosso lugar”. Para quem é da terra, a própria textura terrosa da polpa tem um significado peculiar.

Ele é, ainda, a palmeira do quintal da avó, é a comida que ensinaram a comer segundo a tradição familiar, ao lado do peixe frito, com a farinha de mandioca, “como manda o costume”. É o alimento, quase sagrado, servido nas cuias, como se carregasse, no gesto uma prática milenar.

E, de fato, carrega. Afinal, a existência do fruto só é possível graças aos milênios de evolução pelos quais a espécie passou na mata tropical sul-americana, com as suas condições peculiares de nascimento, cultivo e manejo.

Ou seja, o açaí não é só naturalmente, mas também é socialmente indissociável da região amazônica.